Ilusão
(Miriam Esperança)
Nos humanos em algum momento da vida, temos a necessidade de nos iludir que a solução de todas as coisas advém de alguém, que elegemos como aquele que nos fará e nos trará toda a felicidade que nos é necessária para existir.
Cremos que nunca seremos felizes, sem aquele que elegemos como primordial em nossa vida. Fazemos juras eternas, prometemos o céu, a terra e até mesmo o inferno.
No glorioso inicio da relação, o prazer de estar juntos, de pensar no outro, a cumplicidade das coisas que fazemos, o bom dia matinal, a poesia dos olhares, os gestos de carinho, estar junto ou só, é estar para o outro e com o outro. Assim somos todos nos em algum momento da vida e provavelmente quem não foi um dia ainda o será. É o prazer e o desejo de ser no outro, uma ilusão que perpetuamos e precisamos para dar sentido para nossa existência. Quando percebemos que a ilusão de ter o outro não é real, então sofremos o desencanto e a perda do que imaginávamos ser o outro. Neste momento que a relação agoniza, tentamos modificar o outro para sermos mais felizes. Começa o pesadelo e o grande duelo de forças, que só desgasta a relação. Os olhares já não são de cumplicidade, mas de cobrança, os gestos de carinhos não são mais intensos, o lirismo e a poesia já se foi em outro instante, não somos dois juntos e sim um tentando ser com o outro alguma coisa que não tem consonância. Somos uma dupla desafinada, que precisa evoluir ou se separar, é nesse período que se descobre o que é amor ou uma simples paixão com tempo determinado para acabar. A convivência diária torna a vida uma rotina que aniquila com a relação, com isso vem o desrespeito à falta de tato com o outro, as brigas, as palavras que não deveriam ser ditas, os rancores, os temores, a solidão a dois e por fim nos tornamos estranhos, já não nos reconhecemos com o outro e no outro, nos tornamos individualistas em tudo. A ilusão do outro deixa de existir e mundo se torna único novamente. Retornamos ao ciclo da dita liberdade de ser e fazer tudo que se deseja, sem ter que comunicar a ninguém, somos novamente como pássaros que voa em direção ao horizonte com a sensação de liberdade infinita. Assim buscamos a vida toda a ilusão do amor e da liberdade, mas elas só se unem no lugar narcíseo da existência humana. Onde não podemos ser para o outro, pois só enxergamos a nos mesmo e o conceito de liberdade para com o outro, é enjaulá-lo numa relação ou lugar que nos satisfaça. O sagrado conjugar dos verbos ser, ter e dar é a grande lição que podemos aprender nas relações humanas seja amorosa ou não, fraternal ou não, apenas relações que só pode ser construídas com solidez no lugar grandioso de amizade, essa é a essência que faz dar certo toda e qualquer relação à AMIZADE.
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